Celebrar o Dia do professor é lembrar que a docência vai muito além do quadro e da sala de aula. Neste texto compartilho conversas que tive com colegas sobre como chegamos aqui, o frio na barriga do primeiro dia, os desafios com as novas gerações e as histórias que nos marcam para sempre. Se você é estudante, futuro professor ou simplesmente curioso, vem com a gente refletir sobre esse ofício que transforma vidas.

Como a gente se tornou professor quando nem sempre quis

Muitos imaginam que todo professor sonhou dar aula desde criança. Não foi o meu caso e também não foi o caso de algumas colegas que conversaram comigo. A Juliana, por exemplo, falou com sinceridade: ela nunca quis ser professora. Passou pela pesquisa, pela clínica, fez mestrado e doutorado e só virou docente quase como um experimento. Só depois de dar as primeiras aulas é que ela percebeu: ser professor é estudar sem parar. Essa mudança de visão foi crucial.

A Ana Lara também não começou com a intenção de ser professora universitária. Veio da prática profissional, da arquitetura, da monitoria, da iniciação científica e foi descobrindo no contato com alunos e com a criação de projetos um caminho que fazia sentido. A docência apareceu como consequência do gosto por pesquisar, compartilhar e acompanhar trajetórias.

O primeiro dia e o famoso frio na barriga

Não importa quanto tempo você estudou: o primeiro dia de aula costuma dar frio na barriga. Lembro de colegas que entraram na sala e os alunos acharam que quem ligava o equipamento era um assistente. Outros já chegaram com turmas heterogêneas, com alunos mais velhos, e precisaram construir respeito aos poucos. A insegurança é real, mas com tempo e vontade de aprender junto com os estudantes ela vira rotina.

“Eu demorei seis meses para aceitar alguém me chamando de professora.”

Essa frase traduz bem o quanto a identidade docente pode ser estranha no começo. Mas o importante é saber que não precisa saber tudo. Professor aprende todo dia.

Gerações, atenção e a criatividade em sala

Dar aula para a geração Z traz desafios novos. A atenção é mais fragmentada, o imediatismo das redes pede estratégias diferentes. Em aulas teóricas prolongadas fica mais difícil manter o foco. Por isso é importante usar metodologias ativas: quizzes, dinâmicas com o celular, debates e atividades práticas que tragam estímulos variados.

Falamos também sobre atenção e possíveis transtornos como o TDAH. Para alguns, a dispersão é uma característica que favorece a criatividade. Em arquitetura, por exemplo, ensinar criatividade exige exercícios que promovam conexões não óbvias, referências variadas e muito estímulo ao pensamento por analogias.

“Para ser criativo você precisa consumir muito: filmes, música, leituras. E também muito suor.”

Monitoria: ensinar para aprender

A monitoria aparece como porta de entrada para quem descobre que gosta de ensinar. Monitorar é aprender a ensinar, entender as dúvidas mais comuns e perceber diferentes maneiras de transmitir um conteúdo. Muitos professores começaram assim e dizem que não há método mais eficiente de aprendizagem do que preparar alguém para ensinar.

Histórias que ficam

Existem episódios que não saem da memória. A Juliana contou sobre uma aluna que, em seu primeiro seminário, ficou paralisada de nervosismo e saiu chorando. Meses depois ela foi a porta-voz de um projeto com a prefeitura. Ver essa evolução é o que dá sentido ao trabalho.

Outra história marcante: em véspera de prova a aluna terminou além do horário e estava com medo de voltar de ônibus tarde da noite. A professora a acompanhou até em casa. São situações que extrapolam o papel formal e mostram até onde a docência pode alcançar.

Tem também as cenas engraçadas. Já apagaram a luz durante uma prova só para checar se alguém estava colando. Um professor subiu numa cadeira como se fosse vigilante da sala. Rir dessas histórias é parte da prática.

O futuro da docência: pesquisa, comunidade e gestão

Muitos docentes veem a pesquisa como caminho natural. Pesquisar permite aprofundar temas, orientar trabalhos e propor mudanças sociais. Também há quem seja empurrado para funções de coordenação ou gestão, mas nem sempre esse é o desejo principal. O que une a maioria é a vontade de transformar a sociedade por meio do ensino e da extensão comunitária.

Seja consolidando uma linha de pesquisa, orientando TFGs ou participando de projetos comunitários, a missão segue: aproximar conhecimento e prática para melhorar coletivamente o entorno.

Dicas práticas para alunos e novos professores

• Para quem vai começar a dar aula: aceite a ansiedade, planeje bem e esteja disposto a reconstruir o que não saiu como esperado.
• Para estudantes: experimentar a monitoria é uma forma excelente de aprender e descobrir se a docência combina com você.
• Em relação à atenção: identifique sua forma de aprender. Podcasts, vídeos, leitura ou estudo com música podem ser mais efetivos dependendo da pessoa.
• Quanto à criatividade: acumule referências e pratique muito. A criatividade exige conteúdo e exercício.

Eventos, convites e como acompanhar

Em torno do Dia do professor também divulgamos atividades e semanas acadêmicas importantes. Fique de olho em eventos como a Semana da FAE com palestras sobre tecnologia, gestão e direito e a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia com exposições e espécimes que serão colocadas no pátio. Há até um tubarão de 12 metros na exposição que vale a visita.

Também há ações especiais ao longo do ano como episódios temáticos, lives e datas comemorativas. Se você pensou em entrar numa graduação, verifique o vestibular, as modalidades de inscrição e as redes sociais para acompanhar novidades e oportunidades.

Para finalizar

O Dia do professor é uma oportunidade para agradecer às pessoas que dedicam parte da sua vida a estudar e a transformar outras vidas. A docência tem desafios, inseguranças e muitas horas de trabalho fora do horário, mas também tem histórias de superação, encontros significativos e a sensação de que cada aula pode fazer diferença.

Se você leu até aqui, minha mensagem é simples: valorize o processo. Professores e alunos aprendem juntos. E se você encara essa possibilidade, talvez um dia você também conte suas histórias no corredor, na monitoria ou no palco de uma sala cheia de gente pronta para crescer.

Feliz Dia do professor para todos que ensinam e para todos que aprendem junto.