Estive com a turma do último ano de Ciências Biológicas em uma saída de campo que prova, na prática, por que a formação de um biólogo precisa sair do laboratório e pisar nos ecossistemas. Passamos o dia no costão rochoso e no mar da Praia do Indaiá, em Bertioga, coletando material, medindo faixas de vida e montando um pequeno ecossistema que ficará em observação. O objetivo foi claro: observar, registrar e interpretar o que a natureza nos mostra, do macro ao micro.
Por que campo é imprescindível para Ciências Biológicas
Estudos de campo não são apenas um complemento. São o jeito mais eficaz de entender padrões ecológicos: quem ocupa cada faixa do costão rochoso, como o sedimento influencia a comunidade bentônica, onde se concentram plânctons e microplásticos, e como interações físicas — maré, vento, tipo de areia — moldam tudo isso.
Além do ganho de conhecimento, atividades práticas treinam habilidades profissionais: medir altitudes de plataformas rochosas, identificar organismos, montar relatórios e avaliar impactos ambientais. Um biólogo pode ser chamado como consultor em projetos costeiros e precisa saber reconhecer espécies, sinais de poluição e evidências de degradação.
Atividades realizadas na praia
Caracterização do ambiente
Ao chegar, pedimos que observassem o tipo de praia, formato do sedimento, tamanho das ondas e a vegetação costeira. Esses dados orientam hipóteses sobre quais comunidades esperar no costão rochoso e nas poças de maré.
Coleta e triagem de resíduos
Cada grupo recebeu uma sacola para recolher todo lixo sólido encontrado. Esse material foi catalogado com fita, data e local e voltou ao campus para análise em laboratório. Separar plásticos, tecidos e madeira ajuda a criar um diagnóstico local de poluição.

Transectos e zonificação do costão rochoso
Os estudantes mediram a altura das zonas intermareais e registraram quais organismos ocupavam cada faixa — por baixo, ao meio e no alto do costão. Observamos que cada faixa era ocupada por grupos diferentes, o que evidencia a verticalidade ecológica típica desses ambientes.
Uso do cone de observação
O cone funciona como uma máscara subaquática primitiva: cria uma câmara de ar que permite enxergar debaixo d’água sem óculos de mergulho. É útil quando a visão subaquática direta está prejudicada pela refração. Mesmo com visibilidade baixa naquele dia, a ferramenta ajuda a identificar estruturas fixas no substrato.
Coleta de amostras para o laboratório
Não coletamos animais para manter o equilíbrio local. As coletas foram concentradas em:
- Sedimento — pequenos montes em lamelas para triagem sob lupa e microscópio;
- Plâncton — rede de arrasto em áreas mais profundas para evitar sedimento;
- Algas e fragmentos — para montagem do ecossistema em frasco;
- Resíduos sólidos — para análise de tipos e quantidade.

As amostras de plâncton foram preservadas em álcool para evitar fungos e permitir análise dias depois. Esse tipo de preservação é padrão quando a observação imediata em campo não é suficiente.
Montagem do ecossistema em frasco
Montamos um ecossistema fechado com areia, água e algas, adicionando elementos coletados como pedaços de rocha e conchas. A ideia foi recriar uma microcomunidade que se mantém parcialmente autossuficiente: as algas realizam fotossíntese e produzem oxigênio, os sedimentos e pequenos organismos completam ciclos biogeoquímicos.
O frasco ficará em observação por cerca de um ano e servirá como material comparativo para a próxima turma. Em campo explicamos a importância de não coletar animais inteiros e, quando algo vivo foi retirado para inspeção, sempre retornamos ao habitat após a observação.
Análise em laboratório: o que o microscópio revelou
De volta ao campus, cada grupo processou suas amostras:
- Triagem do sedimento em lâminas e placas de Petri para separar grãos de concha de partículas mineral
- Preparo de lâminas com amostras de água para identificar fitoplâncton e zooplâncton
- Catalogação do lixo por tipo, quantidade e possível origem

Encontramos fitoplâncton, pequenos crustáceos planctônicos e, infelizmente, microplásticos. A presença de microplásticos nas amostras de água e sedimento é um lembrete claro de que a poluição alcança desde a superfície até o microcosmo das águas costeiras.
Aprendizados e impacto na formação
Saída de campo provoca um efeito que dura anos: muda a forma de olhar para o litoral. Em testes e anotações, alunos descobrem detalhes que nenhum slide de apresentação substitui. A experiência reforça:
- A importância da observação sistemática
- Como montar e documentar coletas
- Procedimentos de preservação e ética na pesquisa
- Como traduzir notas de campo em relatórios técnicos
Além do aspecto técnico, há o valor humano: integração entre docentes e estudantes, possibilidade de trabalho em equipe e o encantamento de descobrir organismos e processos vivos no lugar onde eles ocorrem.
Perguntas frequentes
Qual foi o objetivo principal da atividade na Praia do Indaiá?
Caracterizar o ambiente costeiro, coletar e preservar amostras de sedimento, plâncton e resíduos sólidos, e montar um ecossistema em frasco para observação ao longo do tempo, conectando campo e laboratório.
Quais métodos foram usados para coletar plâncton e sedimento?
O plâncton foi coletado com rede de arrasto em área mais profunda para minimizar sedimento. As amostras foram concentradas e preservadas em álcool. O sedimento foi recolhido em pequenas porções para triagem em placas de Petri e observação microscópica.
É permitido coletar animais durante essas saídas?
A política adotada evita coletar animais inteiros para preservar o ecossistema local. Observações e coletas foram feitas de forma responsável; organismos foram inspecionados em campo e, sempre que possível, devolvidos ao habitat.
O que é o cone de observação e quando usá-lo?
O cone cria uma câmara de ar que permite enxergar sob a água sem equipamento de mergulho. É útil em águas rasas e para observar estruturas fixas no substrato quando a visão subaquática direta está limitada pela refração.
Como o material coletado é conservado para análise posterior?
Plâncton e amostras aquosas foram preservados com álcool para evitar deterioração. Sedimentos foram armazenados em recipientes limpos e placas de Petri. O lixo foi separado, identificado e registrado para análise quantitativa.
Observações finais
Atividades que articulam campo e laboratório são essenciais para a formação de quem estuda vida. Elas oferecem não só técnica e conteúdo, mas também curiosidade e responsabilidade ambiental. O contato direto com o costão rochoso, com as poças de maré e com o microcosmo do plâncton transforma a maneira como se enxerga o litoral. E isso, para um biólogo, faz toda a diferença.
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