Pesquisa na FSA aponta lacunas na alfabetização de surdos

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Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Pedagogia da Fundação Santo André destaca a necessidade de melhorias no ensino da língua portuguesa a surdos

Santo André, 14 dezembro de 2018Alfabetização de surdos: práticas pedagógicas e observação discente é o título do TCC de Thatiane Fernandes Duarte, aluna do curso de licenciatura em Pedagogia, da Fundação Santo André, apresentado no CONIC-SEMESP, Congresso Nacional de Iniciação Científica, que tem como objetivo identificar talentos, estimular a produção de conteúdo científico e viabilizar projetos apresentados por estudantes.

O objetivo do estudo foi caracterizar metodologias utilizadas no ensino da língua portuguesa na modalidade escrita para surdos, e seus efeitos nos alunos.

Para a obtenção dos dados Thatiane observou 14 aulas dadas a alunos surdos de 4º e 5º anos de um polo bilíngue da Grande São Paulo, na faixa etária de 9 a 13 anos.  A estudante aplicou testes de avaliação de leitura de palavras e frases, além de compreensão de orações e elaboração de texto a partir de sequência de figuras aos alunos, e questionários ao professor, coordenador pedagógico e pais.

“Vimos que a maioria dos pais não domina Libras (linguagem de sinais) e as crianças ficaram aquém do esperado nas provas de compreensão de orações”, diz Thatiane. A pesquisa apurou que a professora utilizou a lousa em 28% das aulas como recurso didático e cópia de exercícios no caderno. “Em suas respostas ao questionário a professora demonstrou conhecimento das especificidades do ensino de português para surdos”, completa Thatiane.

Thatiane concluiu que nos exercícios de interpretação a produção das crianças é melhor quando baseada na observação de figuras, mas a compreensão de frases que dependiam exclusivamente de texto o resultado foi insatisfatório na maioria dos casos. “Os textos produzidos pelas crianças mostraram sequência de sentenças sem coesão, mas com coerência; uso restrito de pontuação e vocabulário pobre”, adverte a pesquisadora.

Para a professora doutora Marisa Sacaloski, orientadora do TCC, o trabalho se destaca por levantar questões importantes no ensino e que devem ser revistas, como a prática da metodologia prevista na lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, reconhecida como meio legal de comunicação e expressão da Língua Brasileira de Sinais.

“O trabalho entre duas línguas deve ser mais efetivo por meio do uso da língua de sinais em contraposição à língua portuguesa, que têm estruturas muito diferentes; o português escrito é a segunda língua do surdo no Brasil”, aponta Marisa.

A professora, que é também fonoaudióloga e especialista em Libras, ensina que a estruturação de sinais na mesma ordem do português não tem apresentado os melhores resultados. “Há pouquíssimos estudos desenvolvidos sobre o assunto e o TCC da Thatiane traz mais visibilidade a esse tema, que é muito importante”, diz Marisa, que é também psicopedagoga.

Conclusões

A partir dos achados do estudo concluiu-se que:

  1. Quanto às crianças a produção foi melhor quando se baseava na observação de figuras;
  2. Quanto à professora verificou-se a necessidade de constante reflexão sobre a própria prática pedagógica a fim de evitar as armadilhas que as rotinas oferecem, apesar do amplo conhecimento demonstrado no ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos;
  3. Quanto à família, o fato de os pais não saberem Libras influi negativamente no processo de aquisição da língua portuguesa pelos filhos como segunda língua, já que a falta de diálogo com interlocutores surdos resulta no baixo desenvolvimento da linguagem, fator principal para o intercambio entre a língua materna do surdo, Libras, e a língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita.
  4. As práticas pedagógicas desenvolvidas e a falta de interação com adultos surdos, que se restringe ao âmbito escola, possam estar ligadas ao baixo rendimento dos alunos nas atividades de leitura e escrita, às quais estes não atribuem o devido significado, entendendo-as como meio efetivo de comunicação;
  5. É desejável a realização de novas pesquisas com aumento da amostra.